
Resgate da mulher, o sagrado feminino, as fases da vida, os vínculos sociais e afetivos. Esses foram os temas inspiradores do Projeto Mulheres Guerreiras – Gerações de Luta, idealizado por ex-alunos do Curso de Agente Cultural do Senac Pindamonhangaba e selecionado pelo edital Linguagens Artísticas, do Fundo Municipal de Apoio às Políticas Culturais, por meio do Programa de Ação Cultural – ProAC Municípios. A iniciativa ganhou 25 mil reais no início do ano.
O projeto ofereceu oficinas para dois grupos de mulheres: meninas de 13 a 18 anos, na transição para a fase adulta; e mulheres que estão chegando na terceira idade, a partir de 58 anos. Foram atendidas adolescentes no bairro do Feita/Campo Alegre e no Vale das Acácias (distrito de Moreira César) e com as idosas do bairro Vila Rica do Vale das Acácias, do Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). A proposta atendeu 600 mulheres desses perfis. “Percebemos que nessas faixas etárias são altíssimos os índices de isolamento, depressão e suicídio. O projeto pretende atuar diretamente com esses públicos por acreditar que o potencial transformador e agregador da arte pode ser determinante para elas”, explicou Maíra Frois, uma das idealizadoras do projeto.
Maíra é diretora do grupo teatral Os Transeuntes, composto somente por mulheres. Quando ingressou no curso de Agente Cultural percebeu que sua arte poderia ter significados mais amplos. “Em nossos ensaios e no processo rotineiro de trabalho, sempre pontuamos a importância do processo de criação artística somente com mulheres e esse pensamento ficou ecoando na minha cabeça. Com o Senac, passei a pensar a ação cultural de uma forma muito mais ampla e democrática e dessa forma foi mudando meu foco de apenas criar projetos para minhas obras artísticas para que a cidade pudesse fomentar essas ações por pessoas que não trabalhem com arte. Nesse sentindo, surgiu a ideia de um projeto que viabilizasse para outras mulheres em um processo de experimentação similar ao que nós, da companhia de teatro, tivemos a oportunidade de participar”.
Os laboratórios do projeto ocorreram em quatro dias ao longo de duas semanas. Na primeira semana, o foco foi para linguagens artísticas para estimular o compartilhamento das memórias e o vínculo do grupo. Para isso, aconteceram dinâmicas de grupo e contação artística de uma história com o conto do livro Mulheres que Correm como Lobos. Na segunda semana, as participantes optaram por uma das três linguagens: artes plásticas, artes cênicas e música. Nas artes plásticas, os grupos trabalharam com xilogravura. Já no teatro, elas conheceram a o teatro de sombras chinesas. Os grupos que optaram por música tiveram contato com a cabaça e até aprenderam a produzir um xequerê e participaram de canto no coral. No último dia de oficina, todos os grupos reuniram seus trabalhos em uma amostra.
As oficinas foram finalizadas e a apresentação de espetáculo A História de Bernarda Soledade – a tigresa do sertão ocorreu no dia 08 de junho. A peça conta a história de três mulheres da mesma família envolvidas em disputas territoriais em um cenário de paixões e conflitos. Em agosto deste ano, o projeto será finalizado com as quatro apresentações finais da peça de teatro. A equipe do Mulheres Guerreiras está estudando outro projeto similar.
Emily Prates da Silva, 15 anos, do segundo ano de ensino médio na Escola Estadual Rubens Zamith, conheceu o projeto por meio de uma palestra em sua escola. Gostou da proposta e integrou o grupo formado por mulheres de 19 a 35 anos chamado Geração Inês. A jovem, que pretende prestar vestibular para Música, participou das oficinas de teatro de sombra, xilogravura e colagem. “Aprendi muito como eu posso me posicionar no dia a dia. A parte mais difícil para mim foi reproduzir uma música que falava sobre empoderamento”.
Outra participante das oficinas foi a presidenta do Centro de Convivência de Idosos Moreira César Helena Bondioli Moassabe, Suely Santos Luciano, enfermeira aposentada. A integrante da Geração Gabriela, grupo composto por mulheres acima de 58 anos, aprendeu muito com teatro de sombras, xilogravura e dança. “Nos encontros, tivemos oportunidade de conversar sobre momentos da nossa vida desde infância, lembranças de músicas e até os assuntos mais atuais, como gênero, sexualidade e empoderamento da mulher idosa”.
A diretora do grupo teatral ainda compartilhou que a experiência do curso Agente Culturalfoi inspiradora, porque trouxe referenciais teóricos e práticos e aproximou pessoas na cidade com interesses comuns. “O Senac me fez abrir a cabeça e pensar não num projeto de circulação do meu espetáculo, mas algo com um propósito que diz mais respeito a mim, à cidade e ao contexto em que estou inserida”, concluiu.
Fonte: Setor 3